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Envergonhado

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Ah, a já sabida, mas sempre impressionante, transitoriedade das convicções!

Eu, que imaginava que tal se desse única e exclusivamente a respeito dos outros (sempre os outros né...), hoje me deparo com a afamada alteração de concepção a respeito de postura e conceito que trazia comigo os pensando mais fortes e inabaláveis em mim do que qualquer dogma que tenha conhecido.

Mas fui premido, coagido, carregado, empurrado pela fortidão da realidade que me cerca e sobre a qual eu não possuo mínima capacidade de influência, tanto menos alteração.Fui vencido, não me resta dúvida.

De nada adiantam as tentativas de autoconvencimento de que o que se deu comigo é, em verdade, evolução íntima e pessoal oriunda da idade, da experiência adquirida, ou mesmo da humildade louvável em quem tem a consciência de que a vida ensina. Não, foi derrota mesmo! Eis aqui a mão disponível à palmatória e o braço a ser torcido. Tomem! 

Fosse a psicanálise, diria que sobrepujei as forças ocultas de meu mecanismo de defesa, vulgarmente designado como negação da força dos pensamentos que me circundam, quem sabe por possível traço herdado do nosso mítico ancestral Narciso, a resistir a mudanças pessoais capazes de vencer a irredutibilidade e a intransigência.

Logo eu, que me jactava de ser homem democrático e só nisto radical, ao ponto de, com orgulho, disposto ao debate amplo, aberto, franco, livre e aceitável a proposito de qualquer ideia com quaisquer gentes, de quaisquer origens, categorias, correntes, vivências, e por aí vai...

Reservas e limites à disponibilidade que tinha, ou achava que tinha, ao exercício do debate? Claro que sim! Estes a qualidade dos argumentos, sua honestidade, os graus dos decibéis e a decência dos vocábulos empregados na sua defesa, enfim, o tal do diabo do respeito.

E agora, com rubor confessional, declaro que, logo nisto, pereci. Me entreguei.

Me consola outra convicção - que até nem sei se lá na frente não irá também por água abaixo -, no caso a de que não pertence a mim a culpa por essa sucumbência absoluta. Sucumbi, sim, ao perceber, finalmente, que diante de fatos verdadeiros e atos cometidos, hoje não se os negam, mas se os louvam como honrosos e, o que é pior, cobram aderência e aplausos de quem, em interlocução, não os vê como éticos e lícitos, apesar da letra da Constituição Federal e até dos bons costumes

Ora, que argumento, do mais vil como um ditado popular, ao mais sofisticado como, por exemplo, a invocação de um grande pensador, ou ocorrências históricas análogas ou idênticas da história da humanidade ou, ainda, os resultados já em vigor da barbárie dos considerados belos atos, mas que ululantemente asquerosos, socorreria a quem, em debate, sustentasse suas improcedências? E se não os tenho, no que creio, onde buscá-los?   

Diante dos questionamentos para os quais não encontrei, sinceramente, respostas, parei e pensei: larguei de mão.

Mas é só com alguns. Ao dizer que pereceu em mim a disposição para o debate, não a disse falecida. Me alenta, conforta e fortalece a semidemocrática (repito parcial, com vergonha, por disposição apenas para com a imensa maioria dada ao bom senso, não para com os demais, ou de menos) possibilidade que levo comigo de dialogar com os que julgo capazes de fazê-lo com mínima possibilidade de frutos.

Isso é problema meu.

Aos outros, a quem larguei de mão, como disse, prossegue socorrendo a Carta Maior, pois eles e elas continuam tendo absoluto direito e fundamental garantia de livre pensamento e opinião. Só se tornaram a mim irrelevantes.


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